segunda-feira, 21 de maio de 2012

Luz

Luz, tão belo ornamento
O mais bonito, primeiro
Da criação, do dia e na noite
Da lua, luzeiro ali posto
Por Deus para as trevas
Não serem escuras

Sombra, escolha infeliz
Trevas, escondo-me aqui
Escondo meus erros
Do juízo rápido, ligeiro
Do homem, do ídolo
Que elegi para mim

Luz, dom do Senhor
Luzeiro primeiro nascido
Outra vez, novo começo
Dia, mesmo de noite
Trevas não prevalecem
É sempre dia essa luz

Jesus, luzeiro perfeito
Astro primeiro, anterior
Origem de toda beleza
De todo ornamento
Original primor, feitor
Do universo, meu Criador

quinta-feira, 17 de maio de 2012

utopos

Quisera fazer poesia e forjar versos sem matéria prima, brincar de versejar fazendo mais que rimas e repetições rítmicas, sem incitar previsões óbvias do fonema próximo que virá, do próximo símbolo ou do recurso semântico que se seguirá à palavra que escolho, à sintaxe que escolhi obedecer. Poderia privar-me de matéria prima, forjar sem ferro uma vera espada, inventar ex-nihilo um verso ou palavra que seja? Não posso, antes de inventar o símbolo sou reinventado por ele, sou produto de um produto semântico que carrego comigo, sou palavra que se transmuda em palavras escritas que escolho por motivos pretensamente objetivos e autônomos e de matéria prima inexistente.

"Eu quis, por isso escrevi". Não será temeridade pretender este querer autônomo e livre de influências, livre de provocações, livre de aberrações de qualquer natureza? Desvariados somos todos que escrevemos, vazios de motivos vazios que sejam oriundos de matéria inexistente, somos matéria prima da palavra escolhida, do verso, da construção, da engenharia quase aleatória de uma poesia escrita segundo sua própria regra, de seu motivo único, solitário, irrevogável, inalienável, voz que sobrevive em eco permanente sem soar outra vez.

Faço desafio à minha própria razão, ouso tentar a liberdade pura, alcançar o vazio do primeiro motivo, a gênese do pensamento, a consciência da própria consciência. Saber-se diverso é o primeiro motivo, mas não sem motivo é este motivo que nasce de uma contradição, da oposição de equivalências, da negação do outro que me afirma por eliminação. Sou a partir do que não sou, escrevo a partir do que não escrevo, falo a partir do silêncio, vazio que provoca movimento, daí nasce todo texto, motivado por provocações, pela necessidade de afirmar o que o silêncio já faz intuir. Escrevo para provocar pensamentos, para desviar a intuição para caminhos mais interessantes. Se o óbvio fica patente em meu verso, faço-o de propósito como agora sou redundante, para fazer convergirem num mesmo óbvio as percepções rasas e levá-las juntas a lugares menos evidentes, à desconstrução do previsível e retirá-las do lugar comum.

Literatura é transição, transmutação, negação do lugar comum, lugar que se transmuda em utopia, utopografia do inteligível, motivo imaterial da novidade, da criação, da criativa tradução da realidade em reflexão.