quinta-feira, 29 de março de 2012

Parte

Esforço-me para perscrutar uma parte
Pequena parte de mim mesmo e olho
Atentamente sem estorvo e vejo pouco
Pouco menos que nada e nada mais
Desejaria senão realizar este intento
Desejo impossível que me atrai
E me move em esforços inventivos
Inúteis empreendimentos, frustrações
Desde antes conhecidas, previsíveis
Mas veramente tento perscrutar-me
Conhecer-me um tanto mais, um pouco
Pequeno pouco e parte de mim mesmo
De meu desejo, do mal que vejo
Do bem que vejo refletir-se em mim
Do pensamento bom que ora vem
E vai depressa e deixa-me vazio
E só um pouco de bem que não vejo
E que deixo adormecido, escondido
Visível apenas aonde visitantes vão
Lá onde os recebo e não os deixo
Entrar em outra parte onde eu mesmo
Escondi meus pensamentos e o desejo
Vero intento de perscrutar-me a mim
Meu pensamento, desejos escondidos
De mim mesmo, uma parte, grande parte
De mim mesmo, pouco, assim bem pouco
Do que conheço e vejo e tenho aqui
Em minhas mãos dispostas, estendidas
Em direção contrária ao meu desejo
Secreto, furtivo, infeliz, frustrado
Em direção à luz que quero e espero
E desejo com desejo pequeno atrás
Dos grandes desejos maus que tenho
Mas enquanto faço minha prece assim
Com meu desejo frágil e pobre oferecido
Sinto que a sinceridade torna grande
Mesmo o menor dos empreendimentos
Quando o amor é o motivo e Deus o único
Destino, origem, meio e realização
Ele assim perscruta o meu pobre coração
Retirando de mim o meu, o mal e eu
E devolve-me sozinho para mim, pobre
Rico Dele mesmo só, do coração que então
Vivo faz viver o meu e tomando-o
Toma-lhe o lugar e vivo, sem conhecer
Sem querer mais perscrutar uma parte
Pequena parte de mim mesmo e só
Uma parte, pequena parte eu posso
Agora conhecer de meu Jesus e cada dia
Posso mais, um pouco mais, até um dia
Poder ter-me inteiro perto Dele sem
Reserva ou medo de outra vez perder-me
E ser assim eterno e assim possível
Meu intento de conhecer-me inteiro
E amar sem ausentar nenhuma parte
Pequena parte de mim mesmo

terça-feira, 13 de março de 2012

Amor

Amor, verdade livre de pesos
Desejo leve e também livre de tudo
E de todo resto, de planos, ensejos
Utópicos, deleite invisível, vago
Incompreensível, fugidio, alheio

A todo pensamento, invisível, raro
Presente em todo tempo, toda parte
Todo parte e em partes inteiro
Contradição de conceitos, negativo
Mais claro que a mais clara imagem

Morte impensável de vidas tão caras
Rara visão de luz escondida da vida
Que sempre morre e sempre vive
Para morrer e viver sem viver em si
Fazendo morrer seu contrário, morte

Verdade livre de conceitos fáceis
De sentimentos vulneráveis, frágeis
Decisão contrária à mais clara razão
Visível só quando escondida, mistério
Velado à emoção repentina invenção

Vida estranha à investigação e toda obra
De desejos e curiosidades egoístas
Inatingível de outro modo senão este
Que se descreve e escreve sem definir-se
E se revela mostrando-se à vontade

É vontade livre de todo peso, verdade
Imutável sentença de morte e de vida
Que nasce num simples desejo, movimento
Constante de desconhecer e conhecer-se
Saindo de si e indo ao outro, ser

Alheio, fugidio, incompreensível,
Vago, invisível deleite, utópicos
Ensejos, planos e todo resto não há
Livre de tudo, é leve desejo, é só
Verdade livre de pesos, Amor